Autor: Alonso Bezerra de Carvalho*
Ser professor não é para qualquer um
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De todas as profissões que existem, creio que a de professor é a mais
desafiadora. Na maioria das profissões que tem contato com pessoas, o
profissional dificilmente atende ou se ocupa com mais de trinta indivíduos, ao
mesmo tempo, no mesmo lugar e com várias turmas. Portanto, quando entra nas
salas de aula, o professor tem que lidar com dimensões, perspectivas,
expectativas e dinâmicas de vida as mais diversas. Ter competência
técnico-científica seria, nesse caso, apenas um aspecto das tarefas que precisa
ou poderia desempenhar.
Nesse sentido, o professor deveria ter uma
compreensão mais ampla do ser humano com o qual trabalha; bem como de si mesmo.
Porém, o que vemos é uma banalização e uma desvalorização quase completa da
profissão docente.
O Brasil corre o risco de num futuro bem próximo ter
uma grave crise na educação por falta de professores. Os cursos que formam
docentes estão se esvaziando e os alunos que ainda acreditam estão perdendo as
esperanças. Se isso não bastasse, os conteúdos que são ministrados aos futuros
professores parecem que não dão conta das exigências que o cotidiano escolar
apresenta. Entre elas está a questão do reconhecimento de um conjunto de
individualidades que circulam na sala de aula, isto é, cada aluno tem a sua
singularidade, a sua própria identidade.
Nos cursos de formação é dada
uma ênfase apenas aos conhecimentos específicos que devem ser ministrados nas
aulas: História, Geografia, Química, Matemática, Biologia, Língua Portuguesa,
etc. O novo professor sai carregado de informações e, muitas vezes com bastante
entusiasmo, procura trabalhá-las com os seus alunos, que foram concebidos de
maneira abstrata e idealizados. Quando, porém, percebe que há uma distância
entre o ideal e o real, o resultado é, geralmente, a frustração, o
desencantamento e, para aqueles que podem, o abandono da
profissão.
Assim, uma reflexão que talvez caiba fazermos é a respeito do
que mudar no processo formativo e na prática pedagógica. Em minha opinião, o
professor deve ter conhecimentos sobre ética, pois é um campo filosófico que nos
proporciona compreender os valores que adotamos, o sentido dos atos que
praticamos e a maneira pela qual tomamos decisões e assumimos responsabilidades
em nossa vida.
Quando, numa sala de aula, estamos diante de situações de
conflito ou quando defrontamos com dilemas, que exige decisões e escolhas, ter
uma formação ética pode favorecer posturas novas, tolerantes e equilibradas em
nossas práticas educativas. Mas isso é possível? Não é das tarefas mais fáceis,
especialmente pelas razões já apontadas.
Todavia, esse alargamento na
formação do professor, que pode incluir conteúdos estéticos, psicológicos,
políticos, antropológicos, sociológicos, etc, nos leva a considerar com mais
cuidado o significado do outro que, diferente de mim, deve ser respeitado e
tratado na minha dignidade e na dele. No caso da escola, o aluno deve saber e
reconhecer isso; o professor deve saber e reconhecer também. Como se vê, saídas
podem ser arriscadas, basta sabermos se queremos correr riscos ou ficar
conformados com o estado lastimável e degradante em que experimentamos na
atualidade. São esses os desafios de todos nós!
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(*) Alonso Bezerra de
Carvalho é formado em Filosofia e Ciências Sociais e Doutor em
Educação. É docente da Unesp e orientador de turma do curso de Pedagogia do
Projeto Unesp/Univesp.